EXEGESE A Vinha do Senhor Mateus 21.33-46
Introdução
A perícope
estudada nesta exegese é o texto da parábola dos lavradores maus ou dos
vinhateiros baseada no texto de Mateus 21.33-46 e podendo ser encontrada também
em Marcos 12.1-12 e Lucas 20.9-19 além de ser encontrada também no evangelho de
Tomé verso 65.
O motivo
pessoal para a escolha da perícope é que foi o primeiro texto que preguei na
igreja quando ainda adolescente. Com o passar dos anos buscando a cada dia mais
experiência na área da pregação e pregando outras vezes o mesmo texto, vejo a
profundidade da Bíblia e especialmente do texto referido que pode ser muito
mais aprofundado.
33. Ouvi ainda
outra parábola: Havia um homem, proprietário, que plantou uma vinha, cercou-a
com uma sebe, cavou nela um lagar, e edificou uma torre; depois arrendou-a a
uns lavradores e ausentou-se do país.
34. E quando
chegou o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber
os seus frutos.
35. E os
lavradores, apoderando-se dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro
apedrejaram.
36. Depois enviou
ainda outros servos, em maior número do que os primeiros; e fizeram-lhes o
mesmo.
37. Por último
enviou-lhes seu filho, dizendo: A meu filho terăo respeito.
38. Mas os
lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde,
matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança.
39. E, agarrando-o,
lançaram-no fora da vinha e o mataram.
40. Quando, pois,
vier o senhor da vinha, que fará aqueles lavradores?
41. Responderam-lhe
eles: Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros
lavradores, que a seu tempo lhe entreguem os frutos.
42. Disse-lhes
Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram,
essa foi posta como pedra angular; pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso
aos nossos olhos?
43. Portanto eu
vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dę os
seus frutos.
44. E quem cair
sobre esta pedra será despedaçado; mas aquele sobre quem ela cair será reduzido
a pó.
45. Os principais
sacerdotes e os fariseus, ouvindo essas parábolas, entenderam que era deles que
Jesus falava.
46. E procuravam
prendę-lo, mas temeram o povo, porquanto este o tinha por profeta.
A perícope começa no início do versículo 33
que apresenta um começo de conversa ou mudança de assunto com a frase “outra
parábola ouvi”. Jesus havia contado a parábola dos dois filhos motivado pelo
questionamento de sua autoridade, bem como de João Batista. O fim da perícope é o texto conclusivo do
versículo 43 a
46, onde Jesus aplica o significado da parábola aos ouvintes e em seguida o
texto transcreve a reação dos mesmos.
33.
Outra parábola ouvi. (um) homem[2] Havia[1] (um)
dono de casa que plantou (uma) vinha e (uma) cerca dela[2] pôs ao redor[1] e
cavou em ela (um) lagar e construiu (uma) torre e arrendou a mesma (=a vinha) a
lavradores e foi viajar.
34.
quando[2] E[1] se aproximou o tempo dos frutos,
enviou os servos dela para os lavradores para receber os frutos dele.
35.
E tomando[3] os[1] lavradores[2] os servos dele a
um espancaram, a outro mataram, a outro apedrejaram.
36.
Novamente enviou outros servos mais do que os
primeiros, e fizeram a eles semelhantemente.
37.
Por fim[2] E[1] enviou a eles o filho dele dizendo:
respeitarão o filho[2] meu[1].
38.
os[2] Mas[1] lavradores vendo o filho disseram
entre si mesmos: Este é o herdeiro vinde matemos o mesmo e tenhamos a herança
dele,
39.
e tomando a ele lançaram fora da vinha e mataram.
40.
quando pois vier o senhor da vinha, que fará aos
lavradores aqueles?
41.
Dizem a ele: (Aos) malvados horrivelmente destruirá
a eles e a vinha arrendará a outros lavradores, os quais entregarão a ele os
frutos em os tempos deles.
42.
Diz a eles Jesus: nunca lestes em as Escrituras:
Pedra que rejeitaram os construtores,
esta se tornou em cabeça de esquina;
da parte de o Senhor aconteceu isto
e é maravilhoso em olhos[2] nossos[1]?
43.
por isso digo a vós que será tirado de vós o reino
de Deus e será dado a nação que produz os frutos dele.
44.
[E o que cai sobre pedra[2] esta[1] será
despedaçado; sobre[2] quem[3] e[1] cair reduzirá a pó o mesmo.]
45.
e tendo ouvido os principais sacerdotes e os fariseus
as parábolas dele entenderam que a respeito deles estava falando;
46.
e procurando a ele[2] prender[1] temeram as
multidões, porque por profeta a ele tinham[1].
O texto inicia trazendo o primeiro verso com
uma imediata introdução da perícope, descrevendo assim a preparação cuidadosa
da vinha.
Dos versos 33 a 44 segue a narrativa com
dois momentos ou subdivisões. Esta introdução caracteriza nos versos 33 a 39 o discurso de Jesus
por parábolas e em um segunda situação nos versos 40 a 44 inquirindo sobre o
entendimento da mensagem bem como condenado os religiosos por matar os profetas
e dando pistas de sua morte ao contar que uma vez assinados todos os servos do
proprietário só resta matar seu filho. Nos versos 45 e 46 supõe que a citação
encerra a discussão, mostrando a reação dos ouvintes.
O tema central da parábola é a desobediência
do povo de Israel.
A perícope se desenvolve em dois momentos:
1º-
fala da vinha e dos lavradores
2º-
fala da pedra e dos construtores
Do primeiro para o segundo argumento, a vinha
se transforma em pedra e os lavradores em construtores:
Vinha = pedra
= Israel
Lavradores = construtores
= líderes religiosos
Estes são apenas argumentos usados, pois
assunto é o mesmo como já dito, a desobediência de Israel, especialmente de
seus líderes.
Primeiro a atenção é voltada para os frutos que não são
colhidos, depois para os servos
que são maltratados, depois para o filho que é morto e por fim retorna para os frutos que deverão ser
colhidos por outros lavradores.
A perícope pode ser subdividida em quatro
momentos: primeiro a parábola contada, segundo a pergunta chave para o
entendimento da parábola, terceiro uma nova aplicação da parábola com novo
argumento e por último (quarto) a reação dos ouvintes.
A
parábola contada
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33. Outra parábola ouvi. (um)
homem[2] Havia[1] (um) dono de casa que plantou (uma) vinha e (uma) cerca dela[2] pôs ao redor[1] e
cavou em ela (um) lagar e construiu (uma) torre e arrendou a mesma (=a vinha)
a lavradores e foi
viajar.
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34. quando[2] E[1] se
aproximou o tempo dos frutos,
enviou os servos dela para os lavradores para receber os frutos dele.
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35. E tomando[3] os[1] lavradores[2] os servos dele a um
espancaram, a outro mataram, a outro apedrejaram.
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36. Novamente enviou outros servos mais do que os primeiros, e fizeram a eles
semelhantemente.
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37. Por fim[2] E[1] enviou a eles o filho dele dizendo: respeitarão o filho[2] meu[1].
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38. os[2] Mas[1] lavradores vendo o filho disseram entre si
mesmos: Este é o herdeiro vinde matemos o mesmo e tenhamos a herança dele,
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39. e tomando a ele lançaram
fora da vinha e
mataram.
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Questionamento
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40. quando pois vier o senhor
da vinha, que fará
aos lavradores aqueles?
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41. Dizem a ele: (Aos)
malvados horrivelmente destruirá a eles e a vinha arrendará a outros lavradores, os quais entregarão a ele os frutos em os tempos
deles.
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Aplicação
da parábola
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42.
Diz a eles Jesus: nunca lestes em as Escrituras:
Pedra que rejeitaram os construtores,
esta se tornou em cabeça
de esquina;
da parte de o Senhor
aconteceu isto
e é maravilhoso em olhos[2] nossos[1]?
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43.
por isso digo a vós que será tirado de vós o reino de Deus e será
dado a nação que produz os frutos
dele.
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44. [E o que cai sobre pedra[2] esta[1] será
despedaçado; sobre[2] quem[3] e[1] cair reduzirá a pó o mesmo.]
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Reação
dos ouvintes
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45. e tendo ouvido os principais
sacerdotes e os fariseus as parábolas dele entenderam que a respeito deles
estava falando;
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46. e procurando a ele[2]
prender[1] temeram as multidões, porque por profeta a ele tinham[1].
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O texto é apresentado em forma de parábola tendo
o propósito e desvendar e ilustrar um assunto. Os textos do evangelho de Mateus
certamente são fruto e conteúdo de sua pregação na comunidade e o tema ainda
devia ter relevância para os mesmos talvez ainda confrontando a comunidade
mateana que era judaizante para a aceitação do povo gentio cristão, ainda que o
próprio Mateus tenha apresentado seu texto com embasamento judaico[3].
A perícope pressupõe um claro desafio de
Jesus às lideranças políticas e religiosas da época que buscavam subtrair uma
resposta aberta sobre o poder de Jesus. Por isso o Mestre contra-atacava com
perguntas que não podiam responder. A linguagem por isso às vezes parece ser
agressiva.
A tradição acerca da criação e desobediência
de Adão e Eva não sabendo administrar bem o jardim que Deus criou e Caim o
lavrador que matou seu irmão que havia oferecido a Deus um cordeiro, certamente
é a fonte primária deste tipo de alegoria que compara a vinha com o povo de
Deus e os lavradores com os pecadores.
A
narração da perícope faz referência ao cântico da vinha de Isaías 5.1-8 fazendo
alusão à classe dirigente como também é feita por Isaías declarando que a vinha
é Israel (Isaías 5.7) e os administradores além de a administrarem mal tramavam
se apropriar dela. Também o Salmo 80.8-16 traz o cântico da vinha em forma de
uma oração pedindo a proteção da vinha que mais uma vez é interpretada como
Israel.
Ainda no versículo 42 o autor cita o Salmo
118.22 ilustrando o ‘apedokimson’
(rejeitado) que entendia-se sendo Davi o filho que foi rejeitado e aplicando-o
a Jesus. A lógica da narrativa também levou à introdução da figura do filho
único.
Outra lembrança que o texto faz é da lei
mosaica que ensinava que após sete anos de arrendamento da terra, esta deveria
ser devolvida ao seu proprietário original (Deuteronômio 15.1 e 31.10). Isso
fez o povo entender que tinham direito de reivindicar seus direitos e as
autoridades que já tinham usufruído demais do povo.
A bíblia de Jerusalém traz um interessante
comentário sobre a forma literária desta perícope:
“Não é bem uma ‘parábola’, mas sim uma
‘alegoria’, porque cada pormenor da narrativa tem a sua significação: o
proprietário é Deus; a vinha é o povo eleito, Isarael (cf. Is 5,1+); os servos
são os profetas; o filho é Jesus, morto fora dos muros de Jerusalém; os
vinhateiros homicidas são os judeus infiéis; outro povo aquemserá entregue a
vinha, são os pagãos”[4].
O texto está inserido em um contexto de
vários episódios ocorridos na Galiléia dentre outros acontecimentos. Isso pode
ser percebido na leitura dos capítulos 19, 20 e 21 onde os textos estão ligados
entre si pela sua estrutura narrativa quase idêntica, pois neles Jesus volta sua
atenção à uma discussão com seus adversários, num diálogo de perguntas e
respostas.
A perícope é coesa. Não há quebra em seu
sentido, trazendo de forma bem clara o seu discurso. Quanto a autenticidade a
perícope também não apresenta problemas. Em comparação com a mesma parábola
relatada em Marcos e Lucas percebe-se que estão de acordo entre si na seqüência
dos fatos, principalmente por terem provavelmente seguido a fonte do evangelho
de Marcos ou mesmo o evangelho de Tomé que também traz a parábola de forma mais
resumida.
A
perícope é propriamente a continuação da resposta que Jesus dá ao sinédrio
quando após ter entrado triunfalmente no Templo (Mateus 21.1-11), ter
purificado o Templo (Mateus 21.12-13), curado muitas pessoas ali (Mateus
21.14-17) e ao sair da cidade ter feito secar a figueira (Mateus
21.18-22), é então questionado sobre sua
autoridade (Mateus 21.23-27) e como refutação, tendo já contado a parábola dos
dois filhos (Mateus 21.28-32) prossegue com esta parábola revelando não somente
a trajetória bíblica dos profetas como também seu próprio futuro. Estas
narrativas têm em comum apontar para a substituição de Israel3 na história da
salvação.
Os textos que seguem a parábola nos capítulos
22, 23 são a continuação da discussão com os fariseus onde Jesus continua o
tema com a parábola das bodas (Mateus 22.1-14) e em seguida aborda assuntos
polêmicos como a questão do tributo (Mateus 22.15-22), a ressurreição (Mateus
22.23-33), o grande mandamento (Mateus 22.34-40), revela-se como Filho de Davi
(Mateus 22.41-46) e continua o capítulo 23 censurando os fariseus e preparando
seus ouvintes para seu discurso escatológico no capítulo 24.
Sendo assim a perícope é um eixo entre as
discussões dos temas religiosos da época e o tema da salvação proposto por
Jesus. O entendimento da parábola se torna uma chave para entender a história
de Israel e a revelação de Jesus Cristo.
Jesus
contava histórias muito ligadas à maneira de viver do povo da Galiléia, por
isso os exemplos quase sempre estavam ligados à vida rural e agrícola. Na
comunidade mateana prosseguiu-se o uso de parábolas para refletir sobre a
situação social que viviam. Os confrontos de poder romano e resistência popular
judaica quase sempre eram expressadas em torno de ações simbólicas como o uso
de alegorias.
A
palavra mais repetida é lavradores (ampelwna) seis vezes;
depois vinha (gewrgoiv) e frutos (kaprouv)
quatro vezes cada uma; em seguida servos (doulouv) e filho (uion)
três vezes cada uma e por fim pedra (Diyon) duas vezes. O verbo mais enfatizado é enviar (apesteinan)
três vezes citado indicando a missão de Deus para com seu povo.
Segundo
Adolfo Castaño Fonseca[5] a estratégia de contar parábolas era uma forma de pregação
muito usada no discipulado de Jesus que lhe permitia conhecer e compartilhar as
histórias do povo falando numa linguagem que lhes fosse acessível.
Para
entender a passagem em seu sentido, é preciso conhecer a situação dos
arrendatários do século I d.C. Geralmente os arrendatários trabalhavam nas
terras alheias porque haviam perdido suas propriedades devido ao endividamento
junto a nobres ou sacerdotes. Joaquim Jeremias diz:
“não só o vale do Jordão, mas provavelmente
também a margem Norte e Nordeste do Lago de Genezaré e parte do Planalto
Galileu, tinham naquele tempo caráter de latifúndio estando em mão de
estrangeiros”[6].
O
caráter latifundiário de outros lugares do Planalto Galileu era devido ao fato
de que era originalmente terra do rei e as terras da Palestina do primeiro
século eram controladas pela elite herodiana, pelo sacerdócio, anciãos,
escribas, pelo procurador romano e por cidades gentias (Decápolis).
O
arrendatário podia pagar uma determinada quantia fixa pelo uso da terra ou entregar
uma porcentagem da colheita, que normalmente era de 50%. Os arrendatários
viviam em situação de dependência em relação ao proprietário, mas tinham uma
situação melhor do que os diaristas. Essa parábola revela a existência de duas
classes: a dos proprietários ricos e dos camponeses empobrecidos por dívidas.
Essa era a organização sócia da época que continha mecanismos para desapropriar
terras de pequenos proprietários.
Era
comum os estrangeiros comprarem fazendas em Israel que alugavam aos galileus. Os
donos moravam em terras longínquas; enviavam súbditos para cobrar o aluguel. O
auditório imediato de parábola são os “príncipes dos sacerdotes e os fariseus”.
No v.45, “ao ouvir isto, os príncipes dos sacerdotes, entenderam que
falava para eles”.
A perícope cita os seguintes personagens, que
eram comuns para o local e a cultura:
Dono
da casa (oikodespothv): proprietário, chefe de família, talvez até
latifundiário
Lavradores
(gewrgoiv):
Servos
(doulouv):
emissários do dono. Executivos de sua vontade.
Filho
(uion):
autoridade máxima. É o mesmo que o dono vir em pessoa.
A perícope cita lugares comuns ao ambiente da
época e região:
Vinha
(ampelwna):
plantação de uvas. Uma das principais atividades agrícolas da Palestina.
Símbolo da nação de Israel: Is 5.1-2; 27.2; Jr 2.21; Jl 1.7.
Lagar
(lhnon):
dispositivo de dois "tanques", um mais alto do que o outro, onde o
mais alto comunicava-se com o mais baixo por um pequeno canal. No primeiro as
uvas eram pisadas e o suco escorria para o segundo.
Torre
(purgon):
para vigiar a vinha, servir de armazém e de alojamento para os agricultores.
A perícope cita ações negativas dos maiorais
que marcavam o povo:
Cercou-a
de uma sebe (fragmon autw perieyhken): proteção contra ladrões e animais
selvagens, além de impedir a entrada dos pobres que vinham apanhar restos da
colheita.
Arrendar
(exedeto):
aluguel de terras muito comum. O preço podia ser fixado em dinheiro ou, como
neste caso, em frutos.
Podia ser uma quantia fixa ou uma percentagem da colheita
(geralmente 1/3 da mesma).
Ausentar-se
do país (apedhmhsen): comum para os ricos (Mt 25.14). Mostra
confiança.
Espancar,
matar e apedrejar (edeiran, apekteinan, eliyobolhsan):: ações agressivas que lembram o tratamento
comum recebido pelos profetas. (Mt 22.6; 23.31,35,37)
Matar
o filho e se apoderar da herança (deute apokteinwmen auton kai acwmen
thn klhronomian):
pelas leis vigentes na época, uma propriedade sem dono poderia ser tomada pelo
que primeiro a ocupasse. Os agricultores, vendo o filho, provavelmente único,
pensaram: o dono (pai) morreu e agora matando o herdeiro a terra estará
"sem dono" e, portanto, será nossa.
O
significado alegórico da parábola aponta para sua origem na comunidade
primitiva, o contexto social da época. O envio dos emissários era usado para
manter uma vinha no estrangeiro e o aparentemente insensato envio do filho
depois do envio dos servos explica-se pelo fato de que o filho também era dono.
Além disso, indica que todo bem (propriedade) que fica sem proprietário por
muito tempo pode ser apropriado por outra pessoa.
Um
fato interessante é que a parábola conta que a terra foi transformada em
vinhedo e para isso era preciso se muito rico, porque a terra levava quatro
anos para produzir pela primeira vez.
Além disso, ao ser transformada em vinhedo, a terra deixava de ser
cultivada para outras culturas úteis aos camponeses como grãos e legumes e se
tornava uma lavoura cuja colheita só tinha utilidade econômica para o homem
rico.
Os
ouvintes camponeses entre a multidão teriam entendido a parábola só depois de
reconhecerem sua aplicação, isto é, ao perceberem que os arrendatários
distantes e violentos eram a elite de Jerusalém que a tinham sob o domínio
romano.
A
teologia da parábola tem muito sentido de protesto social, como disse Joaquim
Jeremias em seu livro As parábolas de
Jesus:
“A parábola retrata realisticamente o ânimo
revolucionário dos camponeses galileus contra os latifundiários estrangeiros,
excitados pelo zelotismo que tinha sua sede na Galiléia”[7].
Para
nós, cristãos, talvez seja natural entender os elementos da parábola da
seguinte forma: o dono da vinha é Deus, o herdeiro é Jesus, os lavradores/arrendatários
são os judeus. Contudo, esta interpretação simples é, muito provavelmente, fora
da interpretação dos ouvintes de Jesus.
É
preciso pensar bem na interpretação usual cristã da parábola por dois motivos:
antisemitismo:
intenção de condenar os judeus por terem
matado Jesus;
contextualização
puramente espiritual: Jesus estava muito interessado na situação social precária
de seus contemporâneos.
Mas
pelo menos em um ponto a interpretação cristã está de acordo com o entendimento
original da parábola: o dono da vinha é o próprio Deus.
O
personagem que se destaca certamente é o filho que também era dono da vinha e
veio cuidar do que é seu. Deste modo podemos entender que Deus ao nos alcançar
com sua graça nunca nos deixa desprotegidos. Como o agricultor cercou a vinha,
fez a torre e o lagar, colocou lavradores responsáveis sobre ela e mandou seus
servos de tempo em tempo para colher seu fruto, não se intimidando com a má
recepção e enviando seu próprio filho. Assim Deus também cuida de nós e além de
plantar cuida e vigia, mas também julga porque deseja colher frutos dignos em
nossas vidas.
A
Bíblia Nova Vida traz uma explicação interessante sobre o sentido desta
parábola afirmando que a parábola tem três ensinamentos: sobre Deus, sobre os
homens e sobre Cristo[8]. A
parábola ensina que:
a)
Deus é:
1.
É muito bom.
2.
Confia sua vinha ao ser humano.
3.
É paciente para com os pecadores.
4.
Mas julgará a rebeldia.
b) A
humanidade :
1.
Recebe muitos privilégios de Deus.
2.
Tem liberdade de atuação.
3.
Tem responsabilidade para com Deus.
4.
É rebelde contra Deus.
c) Jesus:
1.
Tem direito de Filho de Deus.
2.
Foi morto por nossa culpa.
3.
Se rejeitado, trará juízo.
4.
É a pedra angular que não pode ser rejeitada.
A atualização da mensagem desta parábola é
simples podendo nos colocar ora como a vinha, ora como lavradores ou até mesmo
como servos, a partir da reflexão:
Se somos a vinha, como podemos
frutificar para o Reino de Deus correspondendo a expectativa divina?
Se somos os lavradores, como temos
cuidado de tudo que Deus tem nos proporcionado? De algum modo pessoas nos são
enviadas por Deus para receber de nós o que Deus nos tem dado para cuidar e
então podemos atender os pequeninos
(Mateus 18.10).
Se somos os servos, não precisamos
temer os confrontos e perseguições porque muito pior sacrifício foi enfrentado
pelo Filho, Jesus Cristo ao ponto de entregar sua vida por nós.
O desafio da exegese permanece
como o descobrir do profundo oceano ou da longitude do universo. A cada olhar
uma surpresa. E até mesmo conceitos já solidificados pela tradição simplista que
temos de tudo, são modificados com o estudo e somos forçados a aprender a olhar
com um olhar diferente. Como do artista que não vê na pintura apenas a
paisagem, mas a técnica, o tema, a mistura de cores, a textura e falhas.
Sendo assim, com este estudo aprendemos
como apreender e a caminhada do estudo exegético precisa continuar daqui pra
frente numa busca profunda pelo saber e saber da Palavra de Deus, semelhante ao
homem que buscou um tesouro escondido no campo e vendeu tudo para comprar
aquele campo (Mateus 13.44).
HALLEY, Henry H. Manual Bíblico. São Paulo : Vida Nova, 1993.
BÍBLIA. Português. Bíblia Vida Nova. Trad. João Ferreira de
Almeida. 13. ed. rev. São Paulo : Vida Nova, 1990. p.32.
JEREMIAS, Joaquim, As Parábolas de Jesus. São Paulo:
Paulinas, 1986. p.78.
Discipulado e Missão no
Evangelho de Mateus. Adolfo M. Castaño Fonseca. Coleção V Conferência. São
Paulo: Paulus e Paulinas: 2007. p. 40.
JEREMIAS, Joaquim, As Parábolas de Jesus. São Paulo: Paulinas,
1986. p.122.
BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. 7. ed. rev. São Paulo :
Paulus, 1995. p. 1879.
SALDARINI, Anthony J., A Comunidade Judaico-Cristã
de Mateus, São Paulo, Paulinas, 2000, 360 pp.
SCHOLZ,
Vilson & BRATCHER, Robert. (org). Novo Testamento Interlinear Grego
- Português. Incluindo o texto da tradução de João Ferreira de Almeida,
Revista e Atualizada no Brasil, segunda edição e da Nova Tradução na Linguagem
de Hoje. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.
SBB, Bíblia Almeida Revista e Atualizada no Brasil
Hendriksen, William Mateus São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001,
Vol. 1, 2
COENEN, Lothar & BROWN,
Colin.(Ed). – Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento – São Paulo, S.P.: Vida Nova,
2000. VOL 1 e 2
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Fundamentos
para exegese do Novo Testamento: manual de sintaxe grega. 1ª ed. São Paulo
– SP: Edições Vida Nova, 2002.
[2] SCHOLZ,
Vilson & BRATCHER, Robert. (org). Novo Testamento Interlinear Grego - Português. Incluindo o texto
da tradução de João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada no Brasil,
segunda edição e da Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri: Sociedade
Bíblica do Brasil, 2004.
[3] SALDARINI, Anthony J., A Comunidade Judaico-Cristã de Mateus,
São Paulo, Paulinas, 2000, 360 pp.
[5] Discipulado e Missão no
Evangelho de Mateus. Adolfo M. Castaño Fonseca. Coleção V Conferência. São
Paulo: Paulus e Paulinas: 2007. p. 40.
[6]
JEREMIAS, Joaquim, As Parábolas de Jesus. São Paulo:
Paulinas, 1986. p.122.
[7] JEREMIAS, Joaquim, As Parábolas
de Jesus. São Paulo: Paulinas, 1986. p.78.
[8]
BÍBLIA. Português. Bíblia Vida Nova. Trad. João Ferreira de Almeida. 13.
ed. rev. São Paulo : Vida Nova, 1990. p.32.
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